Antologia II
Fico feliz pela oportunidade mas com receio de não estar à altura. Desta vez era tema livre, uau! Mas.....em poema! Oh pá, poema? Fiquei em pânico. No entanto desistir antes de tentar? Não me parece. Tentar e falhar? Também não gosto, mas prefiro, claro!
E assim, numa noite de insónias, aí pelas 4h, comecei a escrever umas palavras às quais, no final, dei o nome de Elegia, um tanto presunçosa mas, perdoem-me essa parte.
No dia 22 de Outubro, no Lisbon SOHO Club, em Alcântara celebrou-se o lançamento do volume XV da Antologia de Poesia Portuguesa Contemporânea "Entre o Sono e o Sonho".
Na sessão de leitura, Elegia foi declamado por Sara Butler, acompanhada ao piano por Rogério Gil.
Fiquei contente por tentar, feliz por conseguir e orgulhosa por "triunfar". Mais uma vez desculpem a presunção, mas é para rimar :)
Elegia
Ainda é noite e assim será durante lentas horas.
O sono torna-se efêmero e desejado como tudo o que é belo e essencial na vida,
Também ela apenas um sopro.
A juventude foi apenas uma ilusão o que resta não é mais que deceção,
Um desencanto que nos cobre quando temos calor e desliza quando temos frio.
Pensando melhor, teria feito isto ou aquilo e nunca o que escolhi tentar,
Questões ignóbeis que giram na cabeça cansada de pensar, como se ainda adiantasse pensar.
Está feito, é passado, então e porquê continuar?
Mas ela não para tortuosa e nefasta,
Teima sempre em voltar aos teóricos erros idos.
Nunca mais chega a tão desejada luz doce da manhã,
Mas quando chegar não sei o que fazer com ela,
A noite permanece em mim medonha e enlutada,
Baralha-me a alma, ou simplesmente este corpo que definhará como uma vela.
Já não sei nada!
O importante não é o que sabemos, mas o que supomos saber.
Como na nossa ingénua mocidade,
Altura em que só temos certezas,
Altura em que sabemos tudo,
Altura em que somos imortais,
Claro que esta convicção não é real é absurda, mas só nos apercebemos dessa alucinação mais tarde,
Ou antes, tarde demais, agora,
Agora em que aprendemos, vivendo, ou pelo menos tivemos essa obrigação.
Mas isso já não nos basta, já não nos importa
E ainda menos nos conforta.
Está a tocar na porta a tal luz calma da manhã.
Mas não bate só toca ao de leve, indecisa,
Não sabe ao certo se eu a vou deixar entrar em mim,
Mas está vaidosa e brilhante lá fora para todos os que a quiserem absorver e agradecer-lhe o dia.
Mais indecisa estou eu, levanto-me hesitante,
Ainda não sei se a quero ver, se a quero receber.
Vou para a porta, achando que sim
Mas toco-lhe, mais uma vez, pensante...
Madalena Gonçalves
5/8/23
Não fui ao lançamento mas, como é habitual, fui representada pelos meus amigos de Lisboa, que não perdem pitada das minhas pequenas vitórias!
O meu poema fez parte das leituras ao som do piano.
Obrigada pela oportunidade Chiado Books ♡