Antologias VI
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Antologia "Entre o Sono e o Sonho" da Chiado Books
Dormir para não sentir
Talvez pareça uma expressão vaga
Mas não, para quem conhece a dor.
Dor pungente, incessante e que não se apaga
Está sempre junto a mim, sinto-lhe o odor.
Persiste em ficar como uma chama que nunca acaba
E torna-se num fogo que me queima com o seu calor.
Essa dor velha e poderosa
Está dentro de mim
Faz-me tímida, receosa
Que não venha a ter fim.
Quero dormir
Esquecer-me de sentir:
A cabeça cheia e a alma vazada.
Queria tanto acordar aliviada.
No entanto e depois de acordada,
A cabeça continua baralhada
E a alma ainda está desabitada.
Apenas me ocorre fugir, então insisto em voltar a dormir.
Quero sair deste vazio
Quero conseguir viver.
Mas, o débil corpo continua inerte e frio
Mas, o coração insistentemente a bater.
Quando acordar sei que o sono
Mais uma vez não cumpriu,
E então volto, também eu
Insistentemente, e mais uma vez a adormecer.
Uso esta frase com frequência, mais vezes do que gostaria
Mas nos dias de tristeza e dormência, era apenas o que eu faria
Deixar-me ir.
Dormir para não sentir…
Madalena Gonçalves